quarta-feira, 6 de junho de 2012

Raciocinar por hipóteses, eis a solução...


Quem ainda não se acostumou a relativizar suas crenças e demais concepções encontra dificuldades para respirar no clima sereno do diálogo.

Bom ator dialógico é aquele que, desapaixonado por suas próprias ideias, tem consciência de que elas nada mais são do que meras hipóteses que serão, no tempo certo, descartadas por ele mesmo quando seus níveis conscienciais, ampliados ao influxo da força incoercível da evolução ascensional, vierem a lhe franquear acesso a entendimentos mais aprofundados.

Por outro lado, sempre a raciocinar por hipóteses, o sujeito dialógico deve, prévia e conscientemente, reservar espaço nos escaninhos da memória para acomodar confortavelmente as ideias alheias e deixá-las lá permanecer arquivadas como concepções mais ou menos plausíveis a serem validadas ou descartadas pela sabedoria do tempo.

Certo é que a predisposição para raciocinar por hipóteses desativa os nossos mecanismos de defesa, enraizados nas zonas do inconsciente, que costumam colocar nossas unhas de fora ao primeiro eriçar de pêlos.

Ressaltemos ainda, a bem da clareza, que o entendimento relacional, quando restrito ao campo das ideias, jamais ultrapassará as fronteiras de um sempre limitado acordo consensual, uma vez que as interpretações são construções subjetivas de cada um e, ipso facto, divergem nos encontros intersubjetivos, inevitavelmente. 

Diante dessa realidade inarredável da condição humana, a tão desejada fraternização das relações interpessoais só será possível no acatamento recíproco, incondicional, alicerçado na conjugação do respeito às diferenças individuais com sincera afetividade fraternal. 

Sem a postura dialogal e a ética da alteridade (respeito ao outro), nosso discurso será excludente, antifraterno.

Aureci Figueiredo Martins - Porto Alegre (RS)