quarta-feira, 15 de julho de 2009

A reforma moral e o Espiritismo

Allan Kardec
Como força e como lei da natureza, a ação do elemento espiritual abre, assim, novos horizontes à ciência, dando-lhe a chave de uma porção de problemas incompreendidos. Mas se a descoberta de leis puramente materiais produziu no mundo re­voluções materiais, a do elemento espiritual nele prepara uma revolução moral, porque muda totalmente o curso das idéias e das crenças mais arraigadas; mostra a vida sob um outro as­pecto; mata a superstição e o fanatismo; desenvolve o pensa­mento e o homem, em vez de se arrastar na matéria, de cir­cunscrever sua vida entre o nascimento e a morte, eleva-se ao infinito; sabe de onde vem e para onde vai; vê um objetivo para o seu trabalho, para os seus esforços, uma razão de ser para o bem; sabe que nada do que aqui adquire em saber e moralidade lhe é perdido, e que o seu progresso continua inde­finidamente no além-túmulo; sabe que há sempre um futuro para si, sejam quais forem a insuficiência e a brevidade da presente existência, ao passo que a idéia materialista, circuns­crevendo a vida à existência atual, dá-lhe como perspectiva o nada, que nem mesmo tem por compensação a duração, Que ninguém pode aumentar à sua vontade, desde que podemos cair amanhã, em uma hora, e então o fruto de nossos labores, de nossas vigílias, dos conhecimentos adquiridos estarão para nós perdidos para sempre, muitas vezes sem termos tido tempo de os desfrutar.

Repito, demonstrando o Espiritismo, não por hipótese, mas por fatos, a existência do mundo invisível e o futuro que nos aguarda, muda completamente o curso das idéias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não mais tra­balha apenas pelo presente, mas pelo futuro; sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã. Demonstrando a ação do elemento espiritual sobre o mundo material, alarga o domínio da ciência e, por isto mesmo, abre unia nova via ao progresso material. Então terá o homem uma base sólida para o estabelecimento da ordem moral na terra; compreenderá melhor a solidariedade que existe entre os seres deste mundo, desde que esta se per­petua indefinidamente; a fraternidade deixa de ser palavra vã; ela mata o egoísmo, em vez de ser morta por ele e, muito na­turalmente, imbuído destas idéias, o homem a elas conformará as suas leis e suas instituições sociais.

O Espiritismo conduz inevitavelmente a essa reforma. Assim, pela força das coisas, realizar-se-á a revolução moral que deve transformar a humanidade e mudar a face do mundo; e isto muito simplesmente pelo conhecimento de uma nova lei da na­tureza, que dá um outro curso às idéias, uma significação a esta vida, um objetivo às aspirações do futuro, e faz encarar as coisas de outro ponto de vista.




(Trecho do artigo "O Espiritismo é uma Ciência Positiva" - Revista Espírita, novembro de 1864)