Jane Macedo, educadora* - Porto Alegre/RS - janemacedo.poa@hotmail.com
Eu me considero espírita. Demorei para me assumir como tal. Tinha o entendimento de que devido a tantas imperfeições, tantos defeitos e outras coisitas mais eu não tinha o direito de me definir como espírita.
Mas com o passar do tempo e como a vida nunca deixa de nos ensinar, hoje consigo entender que com todas as falhas que tenho, o que importa mesmo é que eu possa percebê-las e procurar não repeti-las e se possível corrigi-las no mesmo instante.
Entre as muitas imperfeições que tenho, uma delas é ser muito rápida no volante, tenho o péssimo hábito de acelerar mais do que o permitido por lei, e como ando o dia inteiro no trânsito sempre me estresso muito. Pois bem, com a ajuda do meu anjo de guarda (que deve sofrer um bocado com uma protegida tão louca) estou conseguindo melhorar essa situação.
Outro dia, distraída troquei de faixa de trânsito sem sinalizar, só ouvi a pisada no freio do coitado que estava atrás de mim e que estacionou ao meu lado na sinaleira preparado para me xingar. Prontamente, baixei o meu vidro e falei:
- Moço me desculpe, eu estava distraída! Ele sorriu e disse “Não foi nada!”
Hoje, novamente acelerada fui tentar passar o sinal antes de fechar e acabei parando em cima da faixa de pedestres, de novo baixei o vidro e pedi desculpas para o senhor que precisava atravessar na faixa e teve que passar pelo meio dos carros.
Acredito ter evitado que duas pessoas saíssem com raiva de mim e desejando que eu me arrebentasse no próximo poste.
Também tenho conseguido evitar briguinhas e discussões do dia-a-dia por entender que não tenho que estar sempre certa, que erro, que o outro tem um ponto de vista diferente do meu, ou que ele ainda não está preparado para determinadas situações.
Por que estou escrevendo isso? Porque estou feliz comigo, porque acho que estou conseguindo engatinhar no caminho da evolução. Estou sendo orgulhosa? Até pode, mas acredito sinceramente que esse não é um orgulho que possa me prejudicar ou, a outrem.
Tenho visto muitos espíritas falando: “esse livro o João tinha que ler...”, ou “essa palestra serviria direitinho para a Maria...” Por que? Será que já aprendi tudo, já atingi o auge da perfeição ao ponto de esse livro ou de essa palestra não servirem para mim? Cadê a humildade das Bem-aventuranças?
Provavelmente, nem sempre vou estar com essa tranquilidade toda e vou acabar vez ou outra “metendo os pés pelas mãos” como se fala popularmente, mas como eu me considero espírita, tenho certeza de que será com menos freqüência e de que saberei parar e tentar consertar o estrago que por desventura venha a cometer.
Esta modesta reflexão também serve para tantos que têm medo de se dizerem espíritas por não se considerarem dignos de tal. Se pudesse olhar nos olhos destes nesse instante, eu diria: “Avante amigo, não se preocupe tanto com suas falhas, não esqueça que o nosso Pai Maior não aponta o dedo para nenhum de seus filhos: ele os abraça e acompanha em sua jornada e, se Ele não o julga e muito menos condena, seja mais tolerante consigo mesmo, ame-se mais e seja feliz. É para isto que estamos aqui!”.
(*) Associada ao IETRD - Porto Alegre/RS