A verdade não
é aquilo que nos convém, nem o que nos interessa, nem o que nos é afim, nem
mesmo aquilo que podemos aceitar com simpatia.
A verdade é o
que é: é a realidade viva e crua, consoante à revelação, que os fatos atestem
tantas vezes se apele para seu testemunho.
A verdade é,
muitas vezes, aquilo que não queremos que seja; aquilo que nos desagrada,
aquilo com que antipatizamos, aquilo que nos prejudica o interesse, nos abate e
nos humilha, aquilo que nos parece extravagante e, até mesmo, aquilo que não
cabe em nós.
A verdade não
se acomoda ao homem, nem às coisas desta vida. O homem é que se há-de acomodar
a ela, se a quiser conhecer e possuir.
A verdade é
sempre senhora e soberana; jamais se curva; jamais se torce; jamais se
amolda.
Quem
desconhece a verdade é indigno da mesma verdade, porque só a desconhecem
aqueles que a rejeitam. E homens há que
tão repetidamente a têm repudiado que acabam por não saber mais o que ela seja,
como sucedeu a Pilatos.
A sociedade é
composta por Pilatos em sua maioria, originando daí as intermináveis
controvérsias e querelas em torno das questões claras e simples.
Os homens
perderam noção da verdade; tantas vezes a sacrificaram em prol de seus
mesquinhos interesses. Não obstante, o mundo precisa da verdade, e sem ela não
pode passar.
Os homens
empregam mil engenhos, e mil artifícios para sustentar o regime da mentira,
cujos proventos imaginam fruir; mas as coisas se vão complicando de tal maneira
que, num dado momento, não haverá mais engenho nem artifício capaz de suster a
falsa situação em que se colocam; tal a origem das grandes comoções sociais.
A verdade, às
vezes, custa tudo o que possuímos. Tal é
a interpretação das palavras do grande Mestre da Verdade: - “Quem
não abre mão de tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”.
[ Extrato do livro Nas Pegadas do Mestre, de Vinicius. FEB. Rio, 1959 ]