(...) O laço
estabelecido por uma religião, qualquer que lhe seja o objeto, é, pois, um laço
essencialmente moral, que religa os corações, que identifica os pensamentos, as
aspirações, e não é somente o fato de compromissos materiais, que se quebram à vontade,
ou do cumprimento de fórmulas que falam aos olhos mais do que ao espírito. O efeito
desse laço moral é de estabelecer entre aqueles que une, como consequência da comunhão
de objetivos e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência
e a benevolência mútuas. É nesse sentido que se diz também: a religião da
amizade, a religião da família.
Por que, pois, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Pela razão de que não há senão uma palavra para expressar duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; que ela desperta exclusivamente uma ideia de forma, e que o Espiritismo não a tem. Se o Espiritismo se dissesse religião, o público não veria nele senão uma nova edição, uma variante, querendo-se, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com um cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo, e dos abusos contra os quais a opinião frequentemente é levantada.
Por que, pois, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Pela razão de que não há senão uma palavra para expressar duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; que ela desperta exclusivamente uma ideia de forma, e que o Espiritismo não a tem. Se o Espiritismo se dissesse religião, o público não veria nele senão uma nova edição, uma variante, querendo-se, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com um cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo, e dos abusos contra os quais a opinião frequentemente é levantada.
O
Espiritismo, não tendo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da
palavra, não se poderia, nem deveria se ornar de um título sobre o valor do
qual, inevitavelmente, seria desprezado; eis porque ele se diz simplesmente:
doutrina filosófica e moral. (grifo nosso)
As
reuniões espíritas podem, pois, ser mantidas religiosamente, quer dizer, com recolhimento
e o respeito que comporta a natureza séria dos assuntos dos quais ela se ocupa;
pode-se mesmo ali dizer, se for possível, as preces que, em lugar de serem
ditas em particular, são ditas em comum, sem ser por isto que se entendam por assembleias
religiosas. Que não se creia que esteja aí um jogo de palavras; a nuança é
perfeitamente clara, e a aparente confusão não vem senão da falta de uma
palavra para cada ideia.
Qual
é, pois, o laço que deve existir entre os Espíritas? Eles não são unidos entre
si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória; qual é o
sentimento no qual devem se confundir todos os pensamentos? É um sentimento
todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para todos, de
outro modo dito: o amor do próximo que compreende os vivos e os mortos, uma vez
que sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.
A
caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo
mesmo e para com os seus semelhantes; é porque pode se dizer que não há verdadeiro
Espírita sem caridade. (...)
(Extrato do discurso feito por Allan Kardec em 01-11-1868,
publicado na Revista Espírita de dez/1868)