Introdução.
Se voltarmos algum tempo atrás, na
aurora da humanidade, e lembrarmos da época em que nos reuníamos ao redor do
fogo, em noites escuras, quem sabe ainda cobertos de pelos e rostos com traços
de primata e, pensativos, observávamos a lenha sendo consumida, o dançar das
labaredas do fogo e as centelhas subindo ao firmamento repleto de estrelas a
brilhar e, de repente, em um relance, como um despertar, indagamos, de onde
tudo vem, desde as árvores de onde colhemos a lenha para o fogo, ou aquele lobo
solitário que nos observa, ou a coruja que distante pia, a terra, o vento, a
chuva e estrelas no firmamento, enfim tudo que existe.
A seguir então percebemos que existimos
olhando os companheiros ao redor e perguntamos: Quem somos? De onde viemos?
E vendo a lenha a se consumir e as
centelhas a subirem em direção aos céus, pensamos: E nós, para onde vamos? Como
tudo isso surgiu? De onde tudo provém? Quem ou o que fez tudo isso?
Ao que parece, essas perguntas devem ser as
mais antigas que já fomos capazes de formular, como seres pensantes,
conscientes do mundo que os cerca e com sentimentos de nós mesmos, perguntas
essas que temos procurado responder ao longo da nossa história, seja por meio da religião, da
filosofia ou da ciência e que, mesmo em nossos dias, após milhares de anos da
existência da Humanidade na Terra, ainda continuamos procurando respostas.
A Doutrina Espírita
A doutrina espírita, ou doutrina dos
espíritos, como fonte de esclarecimento e sabedoria, apresenta preciosas
respostas para nossas dúvidas, sejam do ponto de vista da filosofia, da ciência
ou da religiosidade, a começar, pela beleza do raciocínio filosófico, contido
em o Livro dos Espíritos, apresentando uma séria de perguntas e respostas,
sobre questões existenciais, dentre tantas, questões sobre a existência de
Deus, sobre os universos visíveis e invisíveis, os mundos e os seres que o habitam.
O Espiritismo também, nos esclarecer sobre a existência da alma, dos seres
corpóreos e incorpóreos e sobre a comunicabilidade entre essas duas dimensões
em o Livro dos Médiuns e, do desenvolvimento dos sentimentos, da moralidade e
da religiosidade, segundo a moral Cristã, conforme o Evangelho Segundo o
Espiritismo. Além dessa tríade de obras, Alan Kardec também publicou as obras O
Céu e o Inferno, A Gênese e O Que é o Espiritismo.
Segundo a Introdução do Livro dos
Espíritos, para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o
exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de
sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos: espiritual, espiritualista,
espiritualismo têm acepção bem definida. Quem quer que acredite ter em si
alguma coisa além da matéria é espiritualista. A Doutrina espírita ou o
Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou
seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se
quiserem, os espiritistas.
O Item VII da Introdução do Livro dos Espíritos contém uma
breve um Resumo dos pontos mais importantes da doutrina espírita.
Resumimos assim, em poucas palavras, os pontos mais
importantes da Doutrina que eles nos transmitiram, a fim de respondermos mais
facilmente a algumas objeções.
Deus:
A
inteligência suprema causa primeira de todas as
coisas.
Criou o universo, que compreende todos os seres animados e
inanimados, materiais e imateriais.
Os
Seres Materiais e Imateriais e os Mundos Material e Espiritual:
Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal;
os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, ou seja, dos Espíritos.
O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno,
preexistindo e sobrevivendo a tudo.
O mundo corporal é apenas secundário, poderia deixar de
existir ou nunca ter existido, sem alterar a essência do mundo espírita.
Os Espíritos revestem temporariamente um corpo material
perecível, cuja destruição pela morte lhes devolve a liberdade.
A
Escolha da Espécie Humana para Encarnação dos Espíritos com Certo Grau de
Evolução:
Entre as diferentes espécies de seres corporais, Deus
escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que atingiram certo
grau de desenvolvimento, o que lhe dá a superioridade moral e intelectual sobre
os demais.
A alma é um Espírito
encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
A
Constituição do Homem: Corpo – Espírito - Perispírito:
Há três coisas no homem: 1ª) o corpo ou ser material semelhante ao dos animais e animado
pelo mesmo princípio vital; 2ª) a alma
ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3ª) o laço que une a alma ao corpo, princípio intermediário entre a
matéria e o Espírito.
Assim, o homem
tem duas naturezas: pelo corpo participa da natureza dos animais, dos
quais tem os instintos; pela alma participa da natureza dos Espíritos.
O laço ou
perispírito que une o corpo e o Espírito é uma espécie de envoltório semi
material. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro. O Espírito
conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós
no estado normal, mas que pode tornar-se algumas vezes visível e mesmo
tangível, como ocorre no fenômeno das aparições.
Espírito não é, portanto, um ser abstrato, indefinido, que
somente o pensamento pode conceber; é um ser real, definido, que, em alguns
casos, pode ser reconhecido, avaliado pelos sentidos da visão, da audição e do
tato.
Classes
dos Espíritos
Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais em poder, inteligência, saber e
nem em moralidade. Os da primeira ordem
são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros por sua perfeição,
seus conhecimentos, sua proximidade de
Deus, pela pureza de seus sentimentos e seu amor ao bem: são os anjos ou Espíritos puros. Os das outras classes não atingiram ainda
essa perfeição; os das classes inferiores são inclinados à maioria das
nossas paixões: ao ódio, à inveja, ao ciúme, ao orgulho, etc. Eles se
satisfazem no mal; entre eles há os que
não são nem muito bons nem muito maus, são mais trapaceiros e importunos do que
maus, a malícia e a irresponsabilidade parecem ser sua diversão: são os Espíritos desajuizados ou levianos.
A
Evolução dos Espíritos:
Os Espíritos não
pertencem perpetuamente à mesma ordem. Todos melhoram ao passar pelos diferentes
graus da hierarquia espírita. Esse progresso ocorre pela encarnação, que é
imposta a alguns como expiação15 e a outros como missão. A vida material é uma
prova que devem suportar várias vezes, até que tenham atingido a perfeição
absoluta. É uma espécie de exame severo ou de depuração, de onde saem mais ou
menos purificados.
A
Erraticidade:
Ao deixar o corpo, a alma retorna ao mundo dos Espíritos, de onde havia
saído, para recomeçar uma nova existência material, depois de um período mais
ou menos longo, durante o qual permanece no estado de Espírito errante.
A
Reencarnação:
O Espírito deve passar por várias encarnações. Disso resulta que todos
nós tivemos muitas existências e que ainda teremos outras que, aos poucos, nos
aperfeiçoarão, seja na Terra, seja em outros mundos.
A encarnação dos Espíritos se dá
sempre na espécie humana; seria um erro acreditar que a alma ou o Espírito pudesse encarnar no
corpo de um animal*.
As diferentes existências corporais do Espírito são sempre progressivas
e o Espírito nunca retrocede, mas o tempo necessário para progredir depende dos
esforços de cada um para chegar à perfeição.
As
Qualidades da Alma - Homem Bom Espírito Bom:
As qualidades da alma, isto é, as qualidades morais,
são as do Espírito que está encarnado em nós; desse modo, o homem de bem é a encarnação do bom Espírito, e o homem perverso a
de um Espírito impuro.
A
Individualidade da Alma – Diferente do Panteísmo:
Na sua reentrada no mundo dos Espíritos, a alma reencontra todos aqueles
que conheceram na Terra e todas as suas existências anteriores desfilam na sua
memória com a lembrança de todo o bem e de todo o mal que fez.
A
Pluralidade dos Mundos Habitados:
Os Espíritos não encarnados ou errantes não ocupam uma região
determinada e localizada, estão por todos os lugares no espaço e ao nosso lado,
vendo-nos numa presença contínua. É toda uma população invisível que se agita
ao nosso redor.
A
Influência dos Espíritos Sobre o Mundo Moral:
As
Relações e Atração dos Espíritos:
As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons
Espíritos nos atraem e estimulam para o bem, sustentando-nos nas provações da
vida e ajudando-nos a suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos
sugestionam para o mal; é um prazer para eles nos ver fracassar e nos
assemelharmos a eles.
A
Comunicação com os Espíritos:
As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas.
As comunicações ocultas ocorrem pela influência boa ou má que exercem sobre nós
sem o sabermos; cabe ao nosso julgamento discernir as boas das más inspirações.
As comunicações ostensivas ocorrem por meio da escrita, da palavra ou outras
manifestações materiais, muitas vezes por médiuns que lhes servem de
instrumento.
Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou por evocação. Podem-se
evocar todos os Espíritos, tanto aqueles que animaram homens simples como os de
personagens mais ilustres, qualquer que seja a época em que viveram os de
nossos parentes, amigos ou inimigos, e com isso obter, por meio das
comunicações escritas ou verbais, conselhos, ensinamentos sobre sua situação
depois da morte, seus pensamentos a nosso respeito, assim como as revelações
que lhes são permitidas nos fazer.
A
Atração dos Espíritos por Simpatia:
Os Espíritos são atraídos em razão de sua simpatia pela natureza moral
do ambiente em que são evocados. Os Espíritos superiores se satisfazem com
reuniões sérias em que dominam o amor pelo bem e o desejo sincero de receber instrução e aperfeiçoamento. A sua presença
afasta os Espíritos inferiores que, caso contrário, encontrariam aí livre
acesso e poderiam agir com toda a liberdade entre as pessoas levianas ou
guiadas somente pela curiosidade. Em todos os lugares onde se encontram maus
instintos, longe de obter bons conselhos, ensinamentos úteis, devem-se esperar
apenas futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto ou mistificações, visto
que, frequentemente, eles tomam emprestado nomes veneráveis para melhor induzir
ao erro.
Distinções
entre os Bons e Maus Espíritos:
Distinguir os bons dos maus
Espíritos é extremamente fácil. A
linguagem dos Espíritos superiores é constantemente digna, nobre, repleta da
mais alta moralidade, livre de toda paixão inferior; seus conselhos exaltam
a sabedoria mais pura e sempre têm por objetivo nosso aperfeiçoamento e o bem
da humanidade. A linguagem dos Espíritos
inferiores, ao contrário, é inconsequente, muitas vezes banal e até mesmo
grosseira; se por vezes dizem coisas boas e verdadeiras, dizem na maioria
das vezes coisas falsas e absurdas por malícia ou por ignorância. Zombam da
credulidade e se divertem à custa daqueles que os interrogam ao incentivar a
vaidade, alimentando seus desejos com falsas esperanças. Em resumo, as
comunicações sérias, no verdadeiro sentido da palavra, apenas acontecem nos
centros sérios, cujos membros estão unidos por uma íntima comunhão de
pensamentos, visando ao bem.
A moral dos Espíritos superiores se resume, como a de Cristo, neste
ensinamento evangélico: ‘Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos
fizessem’, ou seja, fazer o bem e não o mal. O homem encontra neste princípio a
regra universal de conduta, mesmo para as suas menores ações.
Eles nos ensinam que o egoísmo, o orgulho e a sensualidade são paixões
que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que
se desliga da matéria já neste mundo, desprezando as futilidades mundanas e
amando o próximo, se aproxima da natureza espiritual; que cada um de nós deve
se tornar útil segundo as capacidades e o meio que Deus nos colocou nas mãos
para nos provar; que o forte e o poderoso devem apoio e proteção ao fraco, pois
aquele que abusa de sua força e de seu poder para oprimir seu semelhante
transgride a Lei de Deus. Enfim, ensinam que no mundo dos Espíritos nada pode
ser escondido, o hipócrita será desmascarado e todas as suas baixezas
descobertas; que a presença inevitável, em todos os instantes, daqueles com
quem agimos mal é um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de
inferioridade e de superioridade dos Espíritos equivalem punições e prazeres
que desconhecemos na Terra.
Mas também nos ensinam que não há faltas imperdoáveis que não possam ser
apagadas pela expiação. Pela reencarnação, nas sucessivas existências, mediante
os seus esforços e desejos de melhoria no caminho do progresso, o homem avança
sempre e alcança a perfeição, que é a sua destinação final.
Conclusão
Em nossos dias ainda perduram muitas injustiças e violência em
decorrência das imperfeições humanas, mas acreditamos que o dia em que
humanidade compreender o significado das leis de reciprocidade, de causa e
efeito e do amor ao próximo entenderá que, para ser respeitado é preciso antes
respeitar e para viver a paz é preciso antes promover a paz e que atitudes
sarcásticas ou irônicas são atitudes provocativas e perigosas, especialmente,
quando tocam nas crenças e valores das pessoas ou dos grupos sociais. Se não
quisermos ser agredidos, não agridamos os outros, seja com palavras, gestos ou
atitudes, pois violência gera violências e atos extremos conduzem a atos
extremos, o que é lamentável. Então, se queremos um mundo de paz, tratemos os
outros como gostaríamos de sermos tratados, assim como ensina a moral do Cristo
e a nossa Doutrina Espírita ou a Terceira Revelação Divina.