Quem ainda não se acostumou a
relativizar suas crenças e demais concepções encontra dificuldades para
respirar no clima sereno do diálogo.
Bom ator dialógico é aquele que,
desapaixonado por suas próprias ideias, tem consciência de que elas nada mais
são do que meras hipóteses que serão, no tempo certo, descartadas por ele mesmo
quando seus níveis conscienciais, ampliados ao influxo da força incoercível da
evolução ascensional, vierem a lhe franquear acesso a entendimentos mais
aprofundados.
Por outro lado, sempre
a raciocinar por hipóteses, o sujeito dialógico deve, prévia e conscientemente,
reservar espaço nos escaninhos da memória para acomodar confortavelmente as
ideias alheias e deixá-las lá permanecer arquivadas como concepções mais ou menos
plausíveis a serem validadas ou descartadas pela sabedoria do tempo.
Certo é que a
predisposição para raciocinar por hipóteses desativa os nossos mecanismos de
defesa, enraizados nas zonas do inconsciente, que costumam colocar nossas unhas
de fora ao primeiro eriçar de pêlos.
Ressaltemos ainda, a bem da clareza,
que o entendimento relacional, quando restrito ao campo das ideias, jamais
ultrapassará as fronteiras de um sempre limitado acordo consensual, uma vez que
as interpretações são construções subjetivas de cada um e, ipso facto, divergem
nos encontros intersubjetivos, inevitavelmente.
Diante dessa realidade
inarredável da condição humana, a tão desejada fraternização das relações
interpessoais só será possível no acatamento recíproco, incondicional,
alicerçado na conjugação do respeito às diferenças individuais com sincera
afetividade fraternal.
Sem a postura dialogal
e a ética da alteridade (respeito ao outro), nosso discurso será excludente,
antifraterno.
Aureci Figueiredo Martins - Porto Alegre (RS)